Felicidade no Trabalho
21/03/2022 • 7 min de leitura
Quando pensamos na cultura de um país, logo vêm à mente seus costumes, suas crenças, a gastronomia, a música e como as pessoas agem e se relacionam. Mas nessa lista também entra a forma como as pessoas trabalham.
Estudos já apontaram que a cultura organizacional brasileira tem traços de personalismo, forte hierarquia e também do famoso jeitinho.
O personalismo pode ser entendido como afetividade. Frequentemente, os colegas se tornam amigos. Pare e pense: quantos dos seus amigos você conheceu no trabalho?
No caso do jeitinho brasileiro, o planejamento pode dar lugar ao improviso porque tendemos a ser menos metódicos e disciplinados. Mas, com criatividade e agilidade, acabamos encontrando maneiras de resolver os problemas.
Por incrível que pareça, essas características podem ser benéficas para quem deseja exercer a liderança de forma humanizada, porque esse estilo de gestão é baseado em empatia, acolhimento e flexibilidade.
O termo ‘liderar’ vem do inglês arcaico “laeden”, que significava “chefiar, guiar”. Por muito tempo, o conceito se limitou ao ato de comandar, com a autoridade sendo exercida pelo medo, conforme o lugar de cada um na hierarquia.
Gradativamente, a definição de líder se desvinculou da ideia de chefe, embora as duas coisas possam, na prática, se misturar.
Os postos de chefia são definidos formalmente, tendo como principais atribuições direcionar e supervisionar o trabalho dos subordinados. Para obter resultados, os que se comportam apenas como chefes pressionam a equipe e fazem cobranças frequentes.
Já o líder é visto como aquele que tem a capacidade de conduzir um grupo para determinados resultados pela cooperação e respeito. Pessoas com esse perfil não necessariamente possuem cargo de gestão.
Enquanto o chefe manda, o líder inspira. O chefe está focado em controlar os processos e fazer com que suas ordens sejam obedecidas. O líder consegue naturalmente influenciar os colegas ao mostrar que estão todos juntos em torno de um objetivo comum.
O conceito de liderança está sempre passando por transformações diante do contexto. A pandemia da Covid-19, por exemplo, direcionou as atenções dos líderes para as necessidades individuais de cada integrante da equipe.
Com toda a tensão causada pelos períodos de distanciamento, o medo da infecção pelo coronavírus e a repentina adoção do home office, os gestores tiveram que se reinventar para coordenar suas equipes.
Nesse processo, algumas características associadas à liderança humanizada ganharam maior relevância.
A condução dos times teve que ser exercida com mais empatia e solidariedade. O bem-estar físico e emocional dos colaboradores passou a ser ainda mais importante.
“Um líder humanizado busca, sobretudo, dar segurança psicológica ao seu time. Isso significa, em primeiro lugar, cada um poder ser quem verdadeiramente é. Há respeito e compaixão. O gestor se interessa pelo colaborador e busca apoiá-lo quando algo não vai bem”, afirma Sarita Vollnhofer, responsável pela área de pessoas da Alice.
A profissional acrescenta que ser um líder disponível e flexível em momentos difíceis não tem nada a ver com a imagem do “chefe bonzinho” que quer agradar todo mundo.
Segundo ela, o líder humanizado busca adaptar processos e atividades às necessidades da equipe, principalmente quando as circunstâncias exigem, mas sem deixar de zelar pelo alcance de metas.
Eventuais cobranças de resultados são feitas de maneira assertiva. O líder busca se comunicar com clareza ao orientar o grupo, mas também dá autonomia.
“A co-responsabilidade de cada integrante do time precisa ser estimulada. Cada um tem que pensar o que pode fazer individualmente para que todos alcancem os objetivos”, destaca Vollnhofer.
Ao invés de se distanciar dos colaboradores para não demonstrar vulnerabilidade, o líder humanizado busca estar perto deles.
Além disso, compartilha informações com regularidade para ampliar a transparência e permitir que os membros da equipe tomem as melhores decisões nas atividades diárias.
Essa proximidade, vale reforçar, não tem a ver com permissividade, que ocorre quando o chefe, na intenção de ser querido, atende todo tipo de pedido ou releva falhas com muita frequência.
Diante de situações como essas, o líder humanizado pratica a escuta ativa e procura encontrar, junto com o colaborador, maneiras de corrigir o que foge à postura profissional esperada.
No caso de um colaborador que sempre pede para sair mais cedo, por exemplo, pode ser necessário adequar o horário de trabalho devido a um problema pessoal ou redistribuir tarefas para que ele não fique ocioso.
Esse acompanhamento atento também ajuda o gestor a promover o desenvolvimento da equipe.
Se um integrante, em um contexto hipotético de vendas, com frequência solicita autorização para fazer concessões a um determinado cliente, pode ser um sinal de que ele precisa adquirir habilidades em negociação.
Seja estimulando a capacitação técnica ou oferecendo feedbacks que levem a mudanças de comportamento, a intenção do líder humanizado é fazer com que cada um encontre sua melhor versão.
Na teoria, o líder humanizado é equilibrado, empático, disponível, flexível, solidário, justo e ainda consegue obter resultados sustentáveis.
Na prática, nem sempre essas qualidades se manifestam naturalmente, como parte da personalidade. Mas, calma, é possível desenvolvê-las!
O ponto de partida para se tornar um líder mais humanizado é ter a consciência de que as relações humanas são a base das atividades profissionais.
Ao compreender a dinâmica da convivência entre as pessoas, o líder adquire um papel estabilizador, principalmente quando há eventuais disputas ou discordâncias na equipe.
Outro princípio é enxergar cada colaborador como pessoa, com sentimentos e particularidades.
E essa mesma percepção vale para o líder, que precisa olhar para dentro, também como ser humano, na tentativa de compreender suas próprias emoções.
Com muita reflexão para ampliar o autoconhecimento, é possível identificar fraquezas, forças, modelos mentais, propósitos e sentidos.
A partir daí, a vontade genuína de aprimorar o que pode ser mudado transpõe o âmbito individual e começa a se refletir na esfera coletiva.
“A busca pela humanização tem que ser verdadeira, não pode ser forçada. A relação de parceria entre os integrantes de uma equipe é construída aos poucos, com o foco sendo direcionado para a cooperação pelas atitudes do líder. E um time mais feliz e saudável vai gerar mais resultados”, finaliza Sarita Vollnhofer.
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