A experiência com a saúde privada no Brasil sempre levou as pessoas a acharem que, a cada necessidade, a única solução seria buscar médicos especialistas. Afinal, o cuidado oferecido pelos planos de saúde tradicionais se resume em uma lista dos profissionais credenciados, divididos pelas diferentes áreas. 

Essa não é a melhor solução nem mesmo quando o assunto são as principais causas de morte, as doenças cardiovasculares. Quem diz isso é o cardiologista Fernando Bacal, membro do Alice Medical Founding Team (AMFT), que desenvolveu os protocolos da especialidade na gestora de saúde Alice. 

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 17,9 milhões de pessoas morreram de doenças cardiovasculares em 2019 – o que representa cerca de um terço de todas as mortes no mundo. Destas, 85% foram causadas por infartos ou derrames. No Brasil, o relatório Estatística Cardiovascular, de 2021, destaca que 72% das mortes no país são devido a doenças crônicas não transmissíveis. Destas, 30% são doenças cardiovasculares. 

“Quando se detecta uma hipertensão em estágios mais avançados, com a necessidade de associar dois ou três medicamentos para o controle, ou uma doença coronariana ou até insuficiência cardíaca, o especialista pode fazer a diferença. Mas, na grande maioria dos pacientes, um time multiprofissional bem orientado resolve. Isso faz com que o sistema seja mais resolutivo e que o especialista atenda aos casos mais difíceis, já que é a especialidade dele”, argumenta o médico, que é também professor livre-docente de cardiologia pela USP e diretor do núcleo de transplantes do Incor (Instituto do Coração). 

Esse cuidado foi colocado em prática durante o desenvolvimento dos protocolos de cardiologia usados na Alice – já que a gestora de saúde prioriza a atenção primária e os cuidados preventivos. 

“Os protocolos levam em consideração as doenças mais prevalentes e, a partir delas, criamos fluxos de identificação dos pacientes mais graves que necessitam do encaminhamento aos especialistas. O atendimento se baseia nesses protocolos, que foram construídos em cima da medicina baseada em evidências e nas diretrizes das sociedades europeia, americana e nacional”, destaca Bacal, que também coordena o programa de insuficiência cardíaca e transplante cardíaco do Hospital Israelita Albert Einstein e é professor pleno de medicina interna do curso de medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.

Leia abaixo a entrevista completa:

A Alice tem uma atuação diferente dos planos de saúde tradicionais, especialmente na coordenação de cuidado do membro. Na sua opinião, enquanto membro da Alice Medical Founding Team, de que forma essas diferenças influenciam na prevenção das doenças cardiovasculares?

A visão que a Alice proporciona ao ter uma análise global e multidisciplinar da pessoa, em todos os aspectos, com foco na prevenção e na detecção precoce de indicadores de maior cuidado, impacta sem dúvida nos desfechos futuros. Um membro que está fora do peso, é sedentário ou que tem a pressão ou diabetes não controlados, e tem todos esses aspectos abordados por esse time multi, vai ter um impacto positivo na saúde cardiovascular. O cuidado mais importante, hoje, com as doenças cardiovasculares é a prevenção. Claro, avançamos muito no tratamento, mas a prevenção, a monitorização e detecção dos sinais de alerta fazem a diferença.

É correto afirmar que a cardiologia é uma área bem servida de novos medicamentos/equipamentos/procedimentos para o tratamento das diferentes condições?

Sim, porque a cardiologia avançou muito no conceito da medicina baseada em evidência. Talvez seja a especialidade com mais estudos clínicos randomizados e populacionais que testaram intervenções e medicamentos durante muitos anos. Hoje as condutas são baseadas nas diretrizes internacionais, em cima da medicina baseada em evidência, com larga experiência e comprovação e estão muito bem sedimentadas entre os profissionais. 

Por que houve esse destaque para a cardiologia, dentre as demais especialidades?

Justamente porque as doenças cardiovasculares são as mais prevalentes e as que mais matam no mundo. Isso gera na indústria farmacêutica, nos órgãos governamentais e nos institutos de pesquisas a vontade de se aprofundar. Uma vez que você impacta em uma doença que é muito prevalente nas populações, além de oferecer uma melhora para o paciente, você também impacta no sistema como um todo. 

Nos planos de saúde tradicionais, as pessoas têm acesso direto aos médicos especialistas. Na Alice, há um Time de Saúde que coordena o cuidado de cada membro. O que essa diferença traz de benefício ou vantagem, em comparação com os modelos de saúde antigos?

Por vezes o especialista tem que entrar no atendimento do paciente quando há uma doença já estabelecida, sem que tenha tido um controle adequado. Quando se detecta uma hipertensão em estágios mais avançados, com a necessidade de associar dois ou três medicamentos, ou uma doença coronariana ou insuficiência cardíaca, aí o especialista pode fazer a diferença. Mas na grande maioria dos pacientes cuidados pelo time multiprofissional, com todas as orientações sobre sono, dieta e exercícios, saúde física e emocional, a equipe pode resolver os casos. Isso faz com que o sistema seja mais resolutivo, porque ao pensar em uma pirâmide de cuidado, o especialista tem que estar na ponta, com os casos mais difíceis.

Como você enxerga a relação entre médicos e enfermeiros de saúde da família com os especialistas que cuidam da saúde cardiovascular? Como você compreende essa interação em rede?

Essa interação em rede é importante, mas é preciso que, primeiro, exista uma comunicação muito clara e muito efetiva, que a Alice proporciona. Os prontuários eletrônicos devem ser muito bem fundamentados, com fácil acesso, assim como os fluxos de encaminhamento e os protocolos bem definidos, e um acesso ao time multiprofissional com rapidez para eventuais dúvidas. Isso faz toda a diferença, principalmente para o paciente.

 

“As doenças cardiovasculares são as mais prevalentes e as que mais matam no mundo. Isso gera na indústria farmacêutica, nos órgãos governamentais e nos institutos de pesquisas a vontade de se aprofundar. Uma vez que você impacta em uma doença que é muito prevalente, além de oferecer uma melhora para o paciente, você também impacta no sistema como um todo.”

 

Como se deu a construção dos protocolos da Alice para a saúde cardiovascular? Quais foram as principais preocupações no desenvolvimento desses documentos norteadores?

Os protocolos levam em consideração as doenças mais prevalentes na sociedade e, a partir delas, criamos os fluxos de identificação dos pacientes mais graves que necessitam do encaminhamento aos especialistas. As orientações de tratamento são baseadas no escore de risco, o que ajuda o Time de Saúde a identificar o membro que procura o atendimento, entender os riscos e as estratificações. O atendimento se baseia nos protocolos, que foram construídos em cima da medicina baseada em evidências e nas diretrizes das sociedades europeia, americana e nacional.

Como se dá a atualização destes protocolos? O que interfere nesta atualização?

Quando existe uma atualização que realmente faça sentido, ela é feita. Por exemplo, durante muitos anos a pressão arterial aceitável era 14 por 9 mmHg. Hoje se sabe que há perfis de pacientes que é importante manter abaixo de 12 por 8 mmHg, especialmente se a pessoa tiver outros fatores de risco, como histórico familiar e obesidade. Essas adaptações vão sendo feitas com o passar do tempo e com os estudos clínicos que vão aparecendo. Outro exemplo são os tratamentos da insuficiência cardíaca que, nos últimos anos, surgiram novas oportunidades de medicamentos para melhorar a qualidade de vida e diminuir as internações. Nesse sentido, as orientações de tratamento também são atualizadas.

Na sua opinião, a prevenção das doenças cardiovasculares pode ser considerada uma preocupação recente da comunidade de saúde? Por quê?

Eu diria que é recente, sim, talvez na última década. Isso porque é possível observar, nas discussões dos grandes estudos randomizados e populacionais, a comprovação de que ser mais proativo na prevenção e buscar metas mais restritas aos pacientes de maior risco, como deixar a pressão arterial mais controlada, impacta nos desfechos futuros. 

A adesão aos hábitos saudáveis pode ser considerada medida suficiente para garantir uma redução de agravos nas doenças cardiovasculares?

Sim, as mudanças de estilo de vida são fundamentais, mas também há outros fatores, como a detecção precoce de alterações que vão necessitar de intervenção medicamentosa mais precocemente. Muitas doenças cardiovasculares são silenciosas. É comum conversar com pacientes com um colesterol muito alto ou uma hipertensão e diabetes sem detecção e sem sintomas. Evidentemente que fazer atividade física, reduzir peso, ter uma dieta saudável e ter um cuidado adequado do sono são medidas que impactam, sem dúvida. Mas também é importante que tenha um acompanhamento, faça os exames de rotina para que, caso haja uma detecção precoce, que o tratamento seja indicado rapidamente. 

Considerando o público da Alice, em sua maior parte jovem, como é possível abordar a importância da mudança no estilo de vida para a prevenção de doenças cardiovasculares?

A maioria é jovem, realmente, e muitos não têm doenças cardiovasculares, mas eles já sentem a necessidade de procurar um plano de saúde para que possam garantir um atendimento e acompanhamento com exames de rotina. Ou seja, eles procuram porque se preocupam com um futuro com mais saúde, mais produtividade e livre de doenças. Faltava no mercado um plano que tivesse essa visão muito mais focada na prevenção, como é na Alice.

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