Por que o Brasil é o segundo país do mundo com a maior taxa de partos por cesáreas? O ginecologista e obstetra Romulo Negrini, líder da linha de cuidado em obstetrícia na Alice, enumera alguns motivos para estarmos nesta posição – e um deles é o modelo de remuneração dos profissionais de saúde no país. 

Nos planos de saúde tradicionais, a pessoa gestante busca um profissional ginecologista e obstetra que, sozinho, faz o acompanhamento completo da gestação, do pré-natal ao puerpério. “É um atendimento personalizado, mas o profissional tem uma vida cotidiana e outros pacientes. Parar tudo para acompanhar um trabalho de parto requer tempo e, durante o processo, não há muito incentivo ao parto normal. A Alice é inovadora porque quebra esse modelo”, explica Negrini, que também é professor doutor em obstetrícia da Santa Casa de São Paulo.  

Na Alice, há uma escala de profissionais da obstetrícia, todos qualificados e preparados para prestar esse tipo de assistência; eles estão disponíveis para qualquer momento – o que diminui as taxas de cesáreas, segundo Negrini. 

“Há um personagem muito importante, que nem sempre é considerado, que é a figura da enfermeira obstetra. Este personagem está mais acostumado ao trabalho de parto com menos intervenção. Quando colocamos apenas o médico para atuar, diante da correria do dia a dia, ele acaba fazendo mais cesárea. Trazer a enfermagem, como faz a Alice, é uma forma de aumentar a taxa de partos pela via vaginal”, explica. 

Em uma entrevista exclusiva ao Portal Time de Saúde, o líder de obstetrícia da Alice explica quais são os principais desafios da área no Brasil e no mundo, o que contribuiu (e ainda contribui) para esses cenários e como a Alice se destaca enquanto um modelo de saúde inovador e focado na entrega de mais saúde à população. 

Na sua opinião, quais são os principais desafios na área de ginecologia e obstetrícia atualmente? 

Quando falamos em obstetrícia, nossos principais desafios enquanto país são: diminuir a taxa de cesáreas, já que somos o segundo lugar no mundo, perdendo apenas para a República Dominicana; e melhorar a taxa de morte materna, que ainda é muito alta. 

Para se ter ideia, a OMS (Organização Mundial de Saúde) orienta que os países tenham menos de 25 mortes maternas para cada 100 mil nascidos. A taxa do Brasil é em torno de 60 mortes, ou seja, ainda está muito acima daquilo que precisamos. As principais causas são hemorragias, hipertensão e infecção, e a prevenção de muitas dessas condições vem do pré-natal. 

E, enquanto alguns estados estão com cerca de 200 mortes, outros apresentam taxas abaixo de 50. Existe também o desafio de unificar as condutas e até oferecer uma equidade para o atendimento, a fim de trazer mais saúde para a população inteira.

E com relação às cesáreas? O que influencia a alta taxa no país?

As taxas de cesáreas se dividem entre o sistema público e o privado. Enquanto no público, a taxa está um pouco acima de 50% dos partos, no privado chega a quase 90%. É muito alto. E o que leva a essa taxa são múltiplos fatores, mas um dos principais é a remuneração no atendimento. 

Você tem um médico que acompanha o pré-natal e é esse mesmo médico que faz o parto e que cuida do puerpério. É um atendimento personalizado, mas o profissional tem uma vida cotidiana, outros pacientes. Para ele, parar e acompanhar um trabalho de parto requer tempo e, durante o processo, não há muito incentivo ao parto normal. A Alice é inovadora porque quebra esse modelo. 

Na Alice há uma escala de profissionais obstetras extremamente qualificados e preparados para prestar essa assistência, e eles estão disponíveis sempre – o que diminui as cesáreas. Esses profissionais têm metas factíveis baseadas em literatura (científica) e, de acordo com essas metas, ganham premiações, que chamamos de valor. Ou seja, valorizamos, assim, a boa prática. 

Isso rompe com o modelo tradicional, que é: fez uma cesariana, paga pela cesariana. Se tiver complicação, paga pela complicação. No modelo Value-Based Healthcare (VBHC), paga-se pelo valor que foi entregue ao paciente. 

Dentre os fatores que favorecem as altas taxas de cesáreas no país, qual é o impacto da cultura da cesárea?

As mulheres brasileiras acabam vendo a cesárea como um processo mais rápido e menos doloroso, apesar de estar associada a um risco maior. Por exemplo, o risco de morte materna na cesariana é três vezes maior. E esse dado não tem o intuito de demonizar as cesáreas, mas entender que elas devem ser feitas com racionalidade. 

Outro motivo que impacta nas cesáreas é a formação médica obstétrica para o acompanhamento dos partos. Há um personagem importante, e que nem sempre é considerado, que é a enfermeira obstetra. Este personagem está mais acostumado com o trabalho de parto com menos intervenção. Quando colocamos apenas o médico para atuar, diante da correria do dia a dia, ele acaba fazendo mais cesárea. Trazer a enfermagem, como faz a Alice, é uma forma de aumentar a taxa de partos por via vaginal.

O que acha daquela frase de que “não é o parto que importa, mas o nascimento”?

É uma frase disseminada, e ela partiu do meio de saúde, por assim dizer. Nós precisamos fazer com que o nascimento seja o mais saudável possível. E, quando se faz uma cesárea desnecessariamente, estamos aumentando o risco. Não é a mesma coisa ter um parto de uma forma ou de outra. E está tudo bem se a população inteira optar por uma escolha ou outra, mas ela precisa estar bem informada. Esse tipo de frase faz sentido em relação ao nascimento, mas não em relação ao risco. 

Na sua opinião, de que forma a Atenção Primária da Alice contribui para partos mais seguros e saudáveis?

A Alice tem um modelo inovador porque, quando há uma Atenção Primária, a pessoa é avaliada antes mesmo de ela engravidar. Então você tem dados sobre a saúde prévia dela e, se é uma pessoa com hipertensão, é possível compensar a condição antes que ela engravide. Se ela engravidar descompensada, há um prognóstico pior. Na medida em que você tem um cuidador da sua saúde, que faz com que essa saúde melhore antes da gravidez, você vai ter uma gestação mais saudável. 

Outro ponto é que, se a pessoa tem um risco maior de desenvolver, após o parto, condições como diabetes ou hipertensão, a equipe consegue prevenir ou mesmo retardar, a partir do cuidado. A Atenção Primária permite essa continuidade do trabalho, que não acontece nos planos tradicionais, em que o bebê nasce e ninguém mais vê aquela pessoa.  

Além disso, a Atenção Primária permite que a pessoa use os recursos conforme precisar. Se precisar de um especialista em endocrinologia ou cardiologia durante o processo, é a Atenção Primária que vai organizar o fluxo para que a pessoa receba todas as avaliações necessárias. Isso é entregar saúde. 

Como você vê a importância do uso de dados para a área da obstetrícia?

O uso dos dados nos ajuda a nortear o futuro. É possível que, pelos dados, eu perceba que uma determinada prática, que não deveria ser feita com regularidade, está sendo aplicada em demasia. Com isso, consigo verificar que ela está associada a algum fator específico. 

Não é possível falar em melhoria da assistência sem falar de dados, porque, do contrário, ficamos apenas com impressões, que são individuais e baseadas apenas na experiência de cada um. Quando falamos em medicina baseada em valor, eu preciso quantificar este valor. E isso é feito com dados, a começar pelo nível de satisfação do paciente.

 

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