Corpo
26/03/2021 • 5 min de leitura
Por Mario Ferretti, médico e diretor da Alice
A medicina avançou tanto nas últimas décadas que realizar apenas uma consulta médica pode acabar parecendo uma medida simplória, não trazendo segurança suficiente. Dessa forma, pessoas, e inclusive alguns médicos, acabam solicitando exames em excesso, conseguindo, assim, uma falsa sensação de segurança: acreditam que estão completamente saudáveis, mas, na realidade, muitas vezes esses testes são desnecessários – mais que isso: podem até ser nocivos.
Parece paradoxal, mas é isso mesmo: exames em excesso podem causar danos à saúde, por complicações inerentes a determinados procedimentos, além de gerar custos que são desperdícios e encarecem o sistema de saúde.
A seguir, vamos nos aprofundar em cada um desses fatores:
Os incidentalomas são tumores encontrados em exames radiológicos que não causam nenhum comprometimento clínico, geralmente benignos e, mesmo quando malignos, são de baixa agressividade, sem consequências para a saúde. Para ter uma ideia, separei abaixo quantos incidentalomas são encontrados em alguns exames comuns:
A presença desses incidentalomas <h3_pink> pode deixar as pessoas ansiosas e preocupadas, <h3_pink> levando-as, muitas vezes, a mais intervenções para investigações ou até tratamentos desnecessários – fatores que podem causar morbidade e até a morte em indivíduos portadores de lesões inofensivas. (2)
Exames como raio-x e tomografia computadorizada possuem um efeito cumulativo e aumentam a chance de câncer por radiação, principalmente em crianças. (3) As punções venosas para coleta de sangue parecem inofensivas, mas um estudo recente mostra que 52% de pessoas apresentaram complicações, sendo que 5% das complicações foram consideradas seríssimas e precisaram de intervenções cirúrgicas. (4)
Um estudo mostrou que 24,9% dos exames solicitados eram desnecessários. Os profissionais alegaram como motivos: o medo de fazer uma má prática, a pressão da população e o incentivo financeiro para pedir mais exames. (5) Logicamente isso cria um custo adicional, encarecendo e sobrecarregando o sistema de saúde.
Vale destacar que outras áreas da medicina, como a epidemiologia, a medicina preventiva e a medicina baseada em evidência, também se desenvolveram muito nas últimas décadas, nos oferecendo embasamento científico para não realizarmos exames desnecessários.
Algumas instituições trabalham para evitar a má prática e os exames desnecessários, como a Choosing Wisely, que promove conversas entre médicos e pacientes, ajudando-os a escolher o cuidado baseado em evidência científica, não duplicar exames já realizados, agir sem riscos de danos à saúde e cuidar verdadeiramente do que for necessário. (6)
A boa consulta clínica é de muita valia e não deve ser substituída por exames. Laudos radiológicos de exames de Ressonância Magnética da coluna lombar geram uma percepção negativa ao indivíduo e piores resultados funcionais, mas uma boa consulta médica com um laudo clínico da condição leva a melhores resultados funcionais. (7)
A US Preventive Services Task Forces é um grupo de experts que, com protocolos de rastreios, pode prevenir doenças com base nas melhores evidências científicas. (8)
Vale lembrar que, ao trazer esse conceito para o Value Based Health Care (VBHC), modelo no qual o valor em saúde é o resultado clínico/custo, sempre que usamos evidências científicas, temos a melhor geração de valor em saúde.
Na Alice, adotamos o VBHC como modelo de negócio e usamos protocolos baseados em evidência. Temos, inclusive, um protocolo de rastreio da população que orienta os exames a serem pedidos conforme características da pessoa e, ainda, com base nas diretrizes da US Preventive Services Task Forces.
Mudar o sistema atual de saúde é uma tarefa difícil, mas necessária para que evitemos mais danos à saúde das pessoas e para que possamos gerar saúde de qualidade e acessível à toda população.
Referências:
Corpo
Com qual frequência deve-se fazer o exame Papanicolau?
10/08/2022 • 10 min de leitura
Corpo
Ciclo menstrual: o que é e como calcular?
10/08/2022 • 14 min de leitura
Corpo
Esportes de alto impacto e treinos vigorosos: quais cuidados tomar?
08/08/2022 • 9 min de leitura
Corpo
O que é treino HIIT e para quem ele é indicado?
29/07/2022 • 9 min de leitura