Comportamento
Muitas idas ao banheiro, ardência ao urinar e dor na barriga podem ser sinais de infecção; entenda a doença.
01/08/2022 • 13 min de leitura
A frequência ideal para fazer xixi é de cinco a oito vezes por dia. Menos que isso é considerado muito pouco, e pode ser reflexo da falta de líquidos ou do hábito de segurar a urina por muito tempo na bexiga. Se as idas ao banheiro forem mais frequentes e associadas a outros sintomas, vale o alerta para a infecção urinária.
Causada, geralmente, por bactérias que sobem da região genital para a bexiga, a infecção urinária é uma condição mais comum entre mulheres cisgênero (que se identificam com o gênero de nascimento) do que entre homens cisgênero. A razão para isso é anatômica.
“As bactérias que normalmente provocam essa infecção são da própria pessoa, e o reservatório mais comum delas é no reto e no intestino. A mulher tem uma uretra mais curta que o homem, de 3 cm a 6 cm, e uma proximidade maior com o orifício do ânus, o que facilita a passagem das bactérias”, explica Karin Anzolch, médica urologista, diretora de comunicação e professora do departamento de doenças infecciosas da Sociedade Brasileira de Urologia.
Entre as mulheres, o risco da infecção aumenta em três momentos:
“Durante o ato sexual, o atrito sobre a uretra empurra as bactérias de fora para dentro. Por isso é importante sempre esvaziar a bexiga após a relação sexual, para eliminar qualquer bactéria que possa ter entrado”, explica a urologista.
A redução dos hormônios femininos durante a menopausa modifica a flora intestinal e bactérias que poderiam ser benéficas – como os lactobacilos – acabam diminuindo em quantidade. “A pele em torno da uretra também sofre uma atrofia, e os vasos sanguíneos que levariam os anticorpos para proteger contra a infecção chegam atrasados ou em menor quantidade”, lembra Anzolch.
Uma solução, segundo a médica, pode ser o uso de cremes com hormônios na região genital, caso a pessoa não tenha contraindicação. “Isso resolve o problema da pele fina e da redução da defesa nas mulheres em menopausa.”
A incidência da infecção urinária varia conforme o gênero e a idade. Embora na juventude as mulheres tendam a ter mais casos que os homens – e, quando eles desenvolvem uma infecção, está mais associada a doenças sexualmente transmissíveis –, os números se igualam a partir dos 50 ou 60 anos.
Isso porque, após essa idade, os homens podem apresentar um crescimento benigno da próstata (condição chamada de hiperplasia benigna da próstata), que prejudica a micção e, por consequência, o esvaziamento da bexiga. Com a urina acumulada, aumenta-se o risco de que as bactérias se reproduzam, gerando a infecção.
O curioso é que a próstata – no tamanho normal – é um elemento que protege o homem contra a infecção urinária, porque serve de barreira à subida direta das bactérias para a bexiga, segundo explica Karin Anzolch, médica urologista.
Nem todas pessoas trans escolhem passar pela cirurgia de redesignação sexual, mas quem opta pela mudança teria um risco diferente na infecção urinária?
De acordo com Willy Baccaglini, médico urologista e integrante da Comunidade de Saúde da Alice, no caso das mulheres trans, a retirada da barreira peniana facilitaria a infecção urinária, mas há um fator protetor já citado: a próstata.
“Não temos estudo fazendo essa avaliação, comparando a mulher trans em relação à mulher cis, mas vale lembrar que a mulher trans ainda terá a próstata, que é um método de barreira e isso, comparado à mulher cis, faz com que tenha uma proteção a mais”, explica Baccaglini, que também é médico urologista da Faculdade de Medicina do ABC e do Hospital Israelita Albert Einstein, além de membro das Sociedades Brasileira, Norte-americana e Europeia de Urologia.
Embora tenha um fator protetor, a redução da produção de testosterona pode influenciar no risco, já que o hormônio pode servir de mecanismo de defesa aos homens cis, de acordo com o urologista. “Não sabemos qual é o impacto real da restrição de testosterona na mulher trans com relação à infecção urinária, mas poderia ser um fator adicional. Não há estudos que comparem e confirmem isso”, destaca.
No caso dos homens trans, como as cirurgias de neofaloplastia (nome dado ao pênis construído) são mais incomuns, há menos dados, de acordo com Baccaglini. “Mas o impacto [da infecção urinária] seria menor, porque o médico está gerando um novo tecido, uma nova uretra. Por outro lado, esse paciente não tem próstata, então não teria um método de barreira que a mulher trans e o homem cis têm”, afirma.
Em mulheres, os sintomas mais comuns são, de acordo com Karin Anzolch, médica urologista, e Willy Baccaglini, médico urologista:
Em homens, o sintoma mais comum é ardor no canal da urina, e nem sempre há o desconforto no pé da barriga, segundo Baccaglini.
Se há febre ou mal estar, a recomendação é buscar um profissional de saúde com urgência.
“Quadro infeccioso com febre e queda do estado geral do paciente são sinais de alarme e de gravidade. Às vezes é necessário receber um medicamento antibiótico intravenoso ou ficar internado, pelo risco de infecção sistêmica”, destaca o urologista.
Os indicativos de uma infecção de urina em crianças e idosos não são os mesmos que nos adultos. Os mais comuns são dores abdominais e alteração do estado de consciência, e a ardência ao urinar é menos frequente.
É preciso ficar atento se o idoso ou a criança apresentarem:
“A infecção urinária deve ser cogitada em casos de bebês que não ganham peso. Sempre que houver a suspeita de infecção urinária em crianças menores de dez anos, o que é raro, deve-se considerar e analisar outros problemas, como mal formações dos rins, dos canais da urina ou da bexiga”, orienta Vinicius Meneguette, médico urologista, parte da Comunidade de Saúde da Alice, e responsável pela oncologia urológica do Hospital Militar de São Paulo.
Na maior parte dos casos, o diagnóstico da infecção urinária é clínico, com base nos sintomas do paciente. Mas o exame de urina pode ser indicado, em alguns casos.
Meneguette cita o exemplo da bexiga hiperativa, condição em que os mesmos sintomas se manifestam – como a vontade de urinar com maior frequência e a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga – e que acomete pessoas com o mesmo perfil da infecção urinária.
“Essa confusão de diagnósticos só pode ser afastada com um exame de cultura de urina, que demonstra se há ou não a infecção”, afirma.
Uma vez identificada a infecção, o tratamento mais indicado é o antibiótico. Para evitar um impacto na resistência bacteriana, os profissionais de saúde têm optado por grupos de antibióticos mais associados à bactéria Escherichia coli (ou E. coli) – principal culpada das infecções urinárias.
Há, porém, medidas preventivas – e naturais – que devem ser adotadas.
De acordo com os profissionais ouvidos pelo Portal Time de Saúde, há evidências científicas de que a fruta cranberry (ou oxicoco, como é também conhecido) reduz o risco de infecção urinária – mas não é tão simples.
Karin Anzolch, médica urologista, explica que nos estudos in vitro (ou em laboratório), os pesquisadores perceberam que o princípio ativo da fruta inativa o mecanismo que permite a aderência da bactéria à parede da bexiga humana. “A bactéria tem flagelos que aderem à mucosa da bexiga, e o cranberry torna essas partes antiaderentes, facilitando a eliminação do microrganismo antes que ele consiga grudar”, detalha.
Nos estudos em seres humanos, a discussão é outra: qual é a dose do princípio ativo da fruta que seria suficiente para essa ação preventiva? “Não basta ingerir o cranberry, mas é preciso ingerir em uma quantidade adequada, e os sucos podem ter componentes muito variados, assim como a fruta”, explica Anzolch.
Ainda que seja possível consumir o cranberry em outros formatos, como cápsulas e extratos, é preciso orientação de um profissional da saúde. “Medidas que não envolvam antibióticos precisam ser estimuladas, ainda que o efeito não seja 100%. Tomar sucos aumenta a produção de urina, e esse é um efeito positivo”, destaca a médica.
Muitas vezes as mulheres são obrigadas a usar banheiros nem sempre em boas condições de higiene e, se elas não se sentam adequadamente ao vaso sanitário, o risco de sobrar urina na bexiga é grande. Mas há como melhorar, segundo a orientação da médica urologista.
“O ideal é urinar com os dois pés no chão, com as pernas abertas, para poder relaxar bem o assoalho pélvico. Se a mulher faz xixi quase de pé, frequentemente ficam resíduos urinários na bexiga. Por isso é importante higienizar o vaso sanitário e sentar-se para urinar completamente, embora nem sempre os banheiros sejam favoráveis a isso”, explica Anzolch.
Outros culpados pelas infecções urinárias são:
Em mulheres após o parto e idosas, vale também o alerta para o prolapso – ou a queda dos órgãos pélvicos, como a bexiga, uretra, útero, reto, intestino, entre outros – também chamado de “bexiga caída”.
“Esses prolapsos podem levar à incontinência urinária, e a umidade que se forma a partir disso favorece o surgimento das bactérias no local. A bexiga que cai, por exemplo, pode formar um reservatório que é mais difícil de esvaziar”, explica a médica urologista.
Para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico, uma sugestão são os exercícios de Kegel. De acordo com informações da Mayo Clinic, organização de saúde sem fins lucrativos, a prática exige treinos diários, pelo menos três vezes, de 10 a 15 repetições para cada movimento. Confira o passo a passo:
A infecção urinária é considerada de repetição quando há pelo menos dois casos em seis meses ou três ao longo de um ano.
As causas para a repetição podem incluir hábitos não saudáveis, como segurar por tempo demais a urina, e também fatores imunológicos. Mas, de acordo com Baccaglini, a prevenção desses casos envolve muito mais mudanças comportamentais do que farmacológicas.
“O hábito de segurar a urina por muito tempo, não ingerir água suficiente e não urinar após o sexo são algumas causas para a repetição. Outro detalhe, que muitas vezes é ignorado, são os hábitos intestinais. A bexiga é a ‘irmã’ do reto. Se a pessoa é muito constipada e tem o hábito intestinal desregulado, as fezes ficam ressecadas no intestino, que, como a bexiga, é um reservatório para bactérias. Isso aumenta o risco de uma translocação bacteriana, do intestino para a bexiga”, explica o médico.
Toda vez que há uma infecção causada por bactérias – seja na bexiga, no ouvido, pele ou garganta – há o risco de que os microrganismos se espalhem pelo corpo, gerando uma infecção sistêmica ou, no termo médico, a sepse.
“Quando o paciente tem um quadro que não é tratado na forma inicial, pode progredir para a infecção sistêmica, quando surge a febre, queda do estado geral. A pessoa pode, então, ser internada em UTI para o controle da pressão e tem risco de um choque séptico. Essa é uma gravidade médica”, explica Baccaglini.
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