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Saúde LGBTQIA+: o que precisa ser lembrado?

Além da alimentação e exercícios, pessoas LGBTQI+ precisam ficar atentas ao uso do cigarro, saúde mental, sexual e hormônios.

Amanda Milléo
| Atualizado em
12 min. de leitura
Saúde LGBTQIA+

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As regras para uma vida saudável são, de forma geral, alimentação balanceada, exercícios físicos regulares e bons hábitos.

Para as pessoas da comunidade LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queer, intersexuais e outras identidades de gênero e orientação sexual), esse cuidado pode incluir particularidades e desafios, já que o acesso à saúde nem sempre é fácil, e a discriminação e o preconceito são barreiras ainda comuns.

Entre as pessoas trans – que apresentam uma identidade de gênero diferente daquela designada ao nascer –, há outro fator. O rastreamento para doenças como câncer de mama e de próstata não pode ser esquecido e, embora nem todas optem por receber hormônios que modifiquem suas características corporais, aquelas que escolhem a hormonização (também conhecida por terapia hormonal) precisam redobrar a atenção à saúde do fígado, dos rins e do coração, por exemplo. 

O Portal Time de Saúde separou alguns dos principais cuidados, confira. 

Saúde Mental

As experiências de discriminação, homofobia/transfobia, rejeição e isolamento social vividos pela população LGBTQI+ aumentam o risco de problemas de saúde mental. Isso não significa que ter uma identidade de gênero ou orientação sexual dentro da sigla levará a uma  depressão ou ansiedade, mas que é preciso ter um cuidado maior. 

Segundo informações da Fundação para a Saúde Mental, do Reino Unido, metade das pessoas LGBTQI+ teve experiências de depressão e 60% delas relataram ansiedade. Além disso, 12,5% das pessoas entre 18 e 24 anos tentaram suicídio. Na população trans, essa taxa chega a quase 50%.

Durante a pandemia da covid-19, a preocupação aumentou. Em um estudo conduzido pelo coletivo #VoteLGBT, em parceria com a especialista em pesquisa de mercado BOX1824, mais de 7.000 pessoas LGBT+ responderam um questionário sobre os impactos da pandemia na própria saúde entre abril e maio de 2021.

Entre as respostas, o agravamento dos casos da doença, além do isolamento social, favoreceu perdas de renda e de familiares, com o aumento da solidão, falta de espaço físico e de perspectivas. “Todos esses fatores se traduzem no agravamento da saúde mental da maior parte dos respondentes”, destacam os autores da pesquisa. 

Prevenir esse cenário começa cedo, como demonstrar apoio e aceitação por parte dos pais ou responsáveis. De acordo com os resultados de um questionário conduzido pelo The Trevor Project, organização para prevenção de suicídio e intervenção de crises da comunidade LGBTQI+, esse tipo de atitude, mesmo que por meio de ações simples, já favorece a saúde mental.

Outro fator protetor é aceitar-se como LGBTQI+. “[Isso] pode significar que eles têm mais confiança, senso de pertencimento a uma comunidade, sentimento de alívio e autoaceitação, e relacionamentos melhores com amigos e familiares”, de acordo com a Fundação para a Saúde Mental. 

Saúde sexual

Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado no fim do ano passado, alertam para o aumento nos casos de sífilis no Brasil. Entre 2010 e 2020, o número passou de 3,9 mil para 115 mil diagnósticos. Ao todo, a pasta calcula que cerca de 1 milhão de pessoas contraíram infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no país, em 2019. Na lista, além da sífilis, estão a gonorreia, herpes genital, HIV/aids, HPV (Papilomavírus Humano), clamídia, tricomoníase e hepatites virais B e C. 

O alerta não é exclusivo para a população LGBTQI+, é claro, mas os cuidados devem ser reforçados neste grupo. Especialmente o uso do preservativo, de  acordo com Alexandre Hohl, presidente do departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). 

Hohl acredita que a chegada do PrEP, ou a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV fez com que as pessoas achassem que só ela já seria suficiente. Embora o medicamento aumente a proteção do organismo contra o vírus HIV, não previne as outras ISTs. 

“Infelizmente temos visto um aumento nos casos de sífilis e gonorreia em populações heterossexuais, homossexuais e bissexuais, porque parece que se desistiu de usar o preservativo”, destaca o médico. 

Para a população trans, falar em saúde sexual também perpassa os cuidados contraceptivos. Murilo Ferreira, técnico de enfermagem da Alice, lembra que homens trans, ainda que façam uso do hormônio testosterona, não estão isentos de engravidar – caso não usem nenhuma proteção. 

“Há casos de homens trans que engravidaram porque achavam que o uso da testosterona os deixariam estéreis, mas não é assim que funciona e não é com todo mundo. Normalmente, o útero continua funcionando e, se tiver uma relação sexual sem camisinha, há o risco”, destaca o profissional, que também é homem trans.

PrEP e PEP: para que serve cada uma? 

Para prevenir o HIV/aids, há uma série de medidas que podem ser combinadas. A PrEP e a PEP fazem parte dessas estratégias. 

O que é a PrEP?

PrEP é a sigla para Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, e se trata de um comprimido, tomado diariamente, que prepara o organismo para uma possível exposição ao vírus. 

Por meio da combinação de dois medicamentos (tenofovir e entricitabina), o tratamento bloqueia o percurso do vírus HIV nas células humanas. 

A estratégia só tem efeito se a pessoa fizer uso do medicamento todos os dias. Caso haja falha e entre em contato com o vírus, o organismo pode não ter uma concentração suficiente das substâncias para evitar a circulação do HIV. 

Além disso, a PrEP protege apenas contra o vírus HIV. Para as demais ISTs, é preciso combinar outras estratégias, como o uso do preservativo. 

O que é a PEP?

No caso da PEP, cuja sigla significa Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, a prevenção é mais urgente, pois o contato com o vírus possivelmente já ocorreu. A profilaxia deve ser feita o mais cedo possível, de preferência nas primeiras duas horas depois da exposição de risco e, no máximo, em 72 horas. 

Ao contrário da PrEP, que deve ser ingerida diariamente, a PEP é realizada por 28 dias, com acompanhamento da equipe de saúde. 

Além do HIV, há PEP para hepatite B e outras ISTs. Quem faz uso frequente da PEP pode ser indicado a receber a PrEP.  

Quem deve receber a PrEP e a PEP?

Com objetivos diferentes, cada estratégia é indicada para situações específicas, de acordo com o risco de exposição ao vírus HIV. Confira abaixo quando é indicada a PrEP e a PEP: 

PrEP: Profilaxia Pré-Exposição ao HIV

De acordo com o Ministério da Saúde, o comprimido da PrEP é indicado a pessoas com maior risco de contato com o HIV, como por exemplo: 

  • Quem não usa camisinha nas relações sexuais; 
  • Quem faz sexo com alguém HIV positivo e que não está passando por tratamento; 
  • Quem faz uso repetido da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);
  • Quem tem episódios frequentes de Infecções Sexualmente Transmissíveis. 

PEP: Profilaxia Pós-Exposição ao HIV

Caso a pessoa já tenha passado por qualquer situação em que haja o risco de contato com o vírus HIV, pode ser indicada a PEP. Segundo o Ministério da Saúde, são consideradas situações de risco:

  • Violência sexual;
  • Relação sexual sem proteção: sem camisinha ou com o rompimento do preservativo;
  • Acidente ocupacional, com o contato com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico, especialmente se estiver contaminado. 

Pessoas LGBTQI+ e o cigarro 

Em comparação à população heterossexual, as pessoas da comunidade LGBTQI+ tendem a fumar mais, de acordo com estudo compartilhado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). A prevalência do uso do cigarro entre a população LGBTQI+, em 2020, seria de 16,1%. Entre os heterossexuais, 12,3%. 

Essa diferença acontece porque, segundo os pesquisadores, os preconceitos e discriminações vivenciados pela população aumentam os níveis de estresse, o que favorece a busca por hábitos não saudáveis, como o tabagismo. 

Além disso, a exposição das pessoas a propagandas e mensagens relacionadas ao uso do cigarro via redes sociais é maior, o que também facilita o uso. 

O mesmo vale para o uso do cigarro eletrônico. A partir de um questionário online realizado com mais de 34 mil indivíduos, pesquisadores dos Estados Unidos perceberam que, enquanto 34,7% dos participantes LGBT tinham sido expostos, no mês anterior, a conteúdos sobre cigarro eletrônico, menos participantes não LGBT (29,3%) receberam as mesmas mensagens. 

Ainda, 15,5% das pessoas LGBT disseram terem recebido cupons ou descontos para a compra de produtos de tabaco. Entre os participantes não LGBT, foram 11,1%. Os resultados foram publicados na revista científica Nicotine and Tobacco Research.

Fator de risco para diferentes tipos de câncer, sendo o mais conhecido o de pulmão, o uso do cigarro também aumenta a incidência de Acidente Vascular Cerebral (AVC), infartos, úlcera gastrointestinal, infecções respiratórias, entre outras condições, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Embora parar de fumar não seja simples, há programas e dicas que ajudam. 

Cuidados com a população trans

Hormonização 

Quando as pessoas trans optam pela hormonização – o uso de hormônios para modificar as características externas do corpo –, o acompanhamento da saúde deve ser reforçado. Isso porque, segundo lembra Pedro Brasil, enfermeiro de acolhimento dos times de saúde da Alice, todas as respostas sistêmicas do organismo mudam quando há uma adição hormonal.  

“No início é mais intenso, porque você recebe uma alta dose de algo que seu corpo está habituado a produzir menos, e o corpo reage de forma brusca. Eu costumo comparar com uma puberdade tardia”, explica Brasil, que também é um homem trans. 

Como os hormônios são metabolizados pelo fígado – e há outras medicações e substâncias consumidas no dia a dia que passam pelo mesmo órgão – o acompanhamento com os profissionais de saúde é mais frequente, a cada dois ou três meses, no início da transição.

“Essa atenção mais rigorosa acontece, em geral, no primeiro ano para aqueles que hormonizam. Depois, fica mais espaçado, a cada seis ou oito meses”, detalha o enfermeiro, que é especialista em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e pós-graduando em Saúde da Família pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Embora os hormônios exijam prescrição médica para serem comprados, é comum que as pessoas trans façam uso deles sem buscar a orientação de profissionais da saúde. Os riscos desta prática vão desde uma trombose pelo uso exagerado de anticoncepcionais orais sem acompanhamento (especialmente quando associado ao tabagismo) à perda da massa óssea, problemas cardiovasculares, infartos e AVCs. 

“A hormonização é segura, do ponto de vista científico, mas é importante que se faça com um acompanhamento da saúde em geral”, reforça Ísis Gois, mulher trans, coordenadora e docente do NutriDiversidade, e doutoranda em endocrinologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além de voluntária no Núcleo TransUnifesp.

A profissional lembra que o acesso aos serviços de saúde, em geral, é mais difícil para a população trans, por questões de violência. Mesmo com uma automedicação prévia, as orientações dos profissionais são fundamentais para que a pessoa alcance o que ela deseja – ainda que com adaptações. 

“Pessoas com casos de tromboembolismo, AVC ou infartos não teriam a indicação de uma hormonização, mas pensaríamos em outras modificações corporais possíveis. Por exemplo, para uma mulher trans ou uma travesti que tem um risco aumentado de AVC e gostaria de reduzir os pelos, poderia ser indicada uma depilação a laser. Ao organizar a saúde cardiovascular de uma pessoa com hipertensão, podemos usar uma medicação anti-hipertensiva e com ação antiandrogênica também”, explica Gois. 

Exames ginecológicos e proctológicos 

A depender da decisão da pessoa trans, há diferentes cirurgias de redesignação sexual que podem ser feitas – e que vão orientar os cuidados de saúde. 

Segundo explica Ísis Gois, um homem trans pode optar pela retirada do útero, por meio da histerectomia, para deixar de ter ciclos menstruais, por exemplo, ou pode escolher fazer a retirada dos ovários também, pois não quer a produção dos hormônios. 

Nesses casos, a reposição será total. “Para as mulheres trans, é possível fazer a cirurgia genital, com a retirada dos testículos. Há quem queira manter a genitália, mas sem ter a produção hormonal, que ocorre nos testículos”, exemplifica Gois. 

Em geral, a próstata não é retirada, o que demanda atenção nos cuidados com a glândula com o passar dos anos, pelo risco do câncer. Da mesma forma, homens trans que não fizeram a mamoplastia (ou a retirada do tecido mamário) precisam ficar atentos à prevenção ao câncer de mama a partir dos 50 anos. 

“Isso vale também para as mulheres trans que passaram pela hormonização [com aumento da glândula mamária]. O risco é baixo, mesmo com a hormonização, mas é preciso fazer os exames”, alerta a profissional. É preciso lembrar que homens cisgênero também têm risco de câncer de mama, justamente pela presença da glândula mamária. 

“Tem muita gente com tabu, principalmente com relação aos exames ginecológicos e proctológicos, porque ainda é muito comum associar quem vai ao ginecologista com uma mulher. Mas as pessoas esquecem que a figura masculina não está mais associada ao pênis, e os exames ginecológicos devem ser feitos anualmente”, reforça Murilo Ferreira, técnico de enfermagem.

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