Key points

  • Atenção secundária é parte importante do modelo de saúde baseado em valor, adotado pela gestora de saúde Alice. Valor este que é calculado na divisão entre os desfechos e os custos, e multiplicado pela pertinência do cuidado. 
  • Desta forma, a remuneração dos especialistas precisa alinhar os incentivos aos profissionais com a entrega do melhor valor aos membros (como são chamados os pacientes). 
  • Na Alice, a remuneração é calculada a partir da complexidade e a resolução de cada caso, e é dividida entre uma parcela fixa e uma variável. 
  • A parcela fixa está atrelada à capacidade de cada profissional em resolver os casos de maior complexidade e, para avaliar essa capacidade, leva em consideração o tempo de experiência, trajetória acadêmica e o engajamento com o meio acadêmico. 
  • No caso da parcela variável, o foco é a entrega do especialista para o membro e a Alice, medida via Score Alice. Este leva em consideração o desfecho clínico (que já é medido, porém ainda não tem um peso específico na remuneração), a experiência do membro, aderência e o engajamento com a Alice. 
  • O modelo de remuneração foi implementado na gestora de saúde no segundo trimestre de 2022 e, nos resultados observados até o fim daquele ano, é possível destacar dois pontos: experiência do membro (NPS de 94 para 96 e tempo médio para agendamento de 6.5 para 5.4 dias úteis) e aderência com a Alice (nível de coordenação de cuidado de 81% para 91%). 

Palavras-chave: Atenção secundária; modelo de remuneração; VBHC.

Introdução

A Alice é uma gestora de saúde que oferece atenção primária, secundária e terciária – ou seja, entrega cuidado de ponta a ponta para os membros.

Apesar do foco na atenção primária, a atenção secundária é uma peça relevante do modelo de saúde. Fazem parte dela os especialistas focais, responsáveis por entregar um cuidado mais especializado e complexo para determinadas condições de saúde.

Os especialistas da atenção secundária são todos parceiros da gestora de saúde e são remunerados pelos serviços prestados com base em uma premissa fundamental da Alice: saúde baseada no valor gerado ao membro (VBHC, ou Value-Based Healthcare).

Esse valor gerado é calculado de acordo com a complexidade e com a resolução de cada caso. Ambos os fatores determinam, respectivamente, as parcelas fixa e variável da remuneração. 

O objetivo deste artigo é descrever como foi desenvolvido o modelo de remuneração, que incentiva um melhor cuidado ao membro e quais são seus resultados observados até agora. 

Estudo de caso

Parcela fixa

A parcela fixa da remuneração dos especialistas da Alice está atrelada à capacidade de cada profissional resolver os casos de maior complexidade. Assim, quanto maior for a capacidade daquele especialista, maior deve ser o valor base da parcela fixa – sobre a qual a parcela variável irá incidir depois.

Para medir essa capacidade, foi criado o PQI (Perceived Quality Index), indicador de 0 a 10 que leva em consideração critérios correlacionados com a propensão de aquele profissional entregar os melhores desfechos em casos mais complexos, tais como:

  • Tempo de experiência: anos de experiência após a especialização;
  • Trajetória acadêmica: mestrado, doutorado, especializações, estágios etc.;
  • Engajamento com o meio acadêmico: preceptoria, docência, publicações etc.

A partir do PQI, é definido o nível do especialista na Alice naquele período e, por consequência, a complexidade dos casos que serão encaminhados, além da remuneração fixa que o especialista irá receber.

Parcela variável

Pode adicionar até 33% sobre a parcela fixa e está atrelada à entrega do especialista para o membro e para a Alice. Ou seja, quanto maior for a entrega, maior será a parcela variável.

Para medir essa entrega, foi criado o Score Alice, um indicador de 0 a 10 que leva em consideração critérios relacionados à entrega do especialista para a gestora de saúde e para o membro, tais como:

  • Desfecho clínico: resolutividade da condição de saúde do membro (já mensurado, porém ainda sem um peso específico no Score Alice);
  • Experiência do membro: NPS, tempo médio de espera do membro para agendamento etc;
  • Aderência: comunicação com atenção primária, aderência a protocolos de cada condição de saúde, etc;
  • Engajamento com a Alice: participação em eventos da gestora de saúde, participação no desenvolvimento de lógicas de saúde e protocolos, etc.

A partir do Score Alice, é definida a performance daquele especialista no período e, por consequência, a remuneração adicional que ele irá receber.

Resultados e discussão

A implementação desse modelo de remuneração em todas as especialidades – e da forma estruturada e transparente como é hoje – é bastante recente, feita no segundo trimestre de 2022. Mesmo assim, já é possível observar resultados significativos tanto na melhoria de indicadores quanto na satisfação dos especialistas.

Melhora dos indicadores

Devido ao pouco tempo entre a implementação do novo modelo e a publicação do presente artigo, ainda é cedo para as conclusões dos indicadores de desfecho clínico (uma vez que não são mensurações de curto prazo). No entanto, já podem ser observados pontos de destaque, como o incentivo do modelo à uma melhor experiência do membro e uma maior aderência com a Alice. 

Abaixo estão três exemplos de indicadores importantes para a Alice e para os membros que tiveram uma melhora significativa nesse período:

  • Experiência do membro (NPS de 94 para 96): os membros afirmam estarem mais satisfeitos e tornaram-se mais “promotores” dos especialistas da Alice;
  • Experiência do membro (tempo médio para agendamento de 6.5 para 5.4 dias úteis): membros conseguem agendar uma consulta para uma data mais próxima;
  • Aderência (nível de coordenação de cuidado de 81% para 91%): a atenção primária da Alice recebe as informações assistenciais necessárias do especialista de forma mais rápida e mais completa.

Satisfação dos especialistas com o modelo

O alinhamento de incentivos é também uma via de mão dupla. Se o modelo de remuneração entrega mais valor para o membro, também deve entregar mais valor para o especialista.

Além da remuneração variável – em que podemos remunerar até 33% mais –, também é avaliada a satisfação dos profissionais a cada ciclo de mensuração. Ambos os critérios de remuneração (PQI e Score Alice) apresentam um NPS de mais de 60 pontos.

Isso significa que os especialistas têm uma grande tendência a recomendar esse modelo de remuneração para outros colegas profissionais de saúde.

Conclusão

O modelo de remuneração é realizado seguindo diretrizes de VBHC e ainda está no início da sua implementação na Alice, portanto há melhorias que podem ser feitas para atingir o objetivo de gerar cada vez mais saúde aos membros. 

Porém, os resultados iniciais indicam que a direção está correta, especialmente quando se destacam a evolução na experiência do membro e a avaliação dos profissionais especialistas com relação ao modelo de progressão em VBHC. 

A mensuração e aprimoramento do modelo será constante, do qual se espera continuar contando, e provando, esse case que consegue alinhar os incentivos dos profissionais de saúde ao que melhor se pode esperar da prática médica. 

 

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